Girassóis na janela

É engraçado como as coisas sofisticadas não tem a beleza das simples. A sofisticação tem seu brilho, mas jamais vencerá o vento soprando no rosto num fim de tarde deitado na relva.
O cheiro de mato, a simplicidade de pés descalços, o café de coador ou o pão assando jamais perderão seu título de nobreza.
Deitar na rede e ler um livro, acariciar sua cria, entrelaçar pernas, assistir um bom filme num dia de chuve é riqueza que a simplicidade permite. Como pode a simplicidade ser rica? Contradições da vida.
Dia desses ganhei o presente mais caro que se pode ganhar, regalo dos mais nobres: aquele que não se ganha a toda hora porque exige algo de precioso: o tempo e o cuidado.
E o que eu ganhei? Girassóis. Foi um presente que veio bem devargar, devagarzinho… Ele veio em partes.
Comecei ganhando o desejo de plantar, meu presente existiu por um tempo apenas no coração de quem ansiava por presentear-me.
Depois, ganhei a disposição da semeadura e a dedicação do plantio. Todos os dias. Se ficasse aqui o meu presente, eu já sentiria-me por demais linsonjeada.
Mas – pasmem – eu segui ganhando: cuidado, poda, retirada de ervas daninhas, olhar amoroso a cada passo da germinação. Tudo isso foi presente.
E então, eis que um dia o presente completou-se e os girassóis floresceram. Meu coração encheu-se de alegria e vi naqueles girassóis todo o amor a mim dedicado por meu jardineiro fiel.
Em tempos de presentear, que o jardineiro e os girassóis nos ensinem a maestria do oferecer-se no presente, não porque ali há parte do seu salário – suado ou não – mas porque ali há gotas do seu suor e do seu amor.
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