Eu e a Poesia

Há algum tempo, um amigo – autor amazonense consagrado – perguntou-me se eu escrevia poesia. E eu prontamente respondi que não. Quando pensava em poesia me vinha à mente aqueles versos sonoros, estrofes com métrica.
Ele então revelou que a poesia caracteriza-se não tanto pela forma e mais pelo conteúdo. A poesia é a expressão de um sentimento intenso, e poderia ser escrita, inclusive, em prosa.
Ao mostrar a ele alguns textos assim escritos, ele de pronto declarou: escreves poesia. Uma revelação e tanto para quem até outro dia não sabia nem se seus escritos davam pano pra manga. Soberbamente, decidi concordar com ele.
Foi então que comecei a separar alguns desses textos recém-batizados de ‘poesia em prosa’, e relendo-os – pasmem! –, realmente encontrei muita carga poética. Escolhidos alguns, arrumei coragem e publiquei-os em meu segundo livro, separando uma seção apenas para poesias.
‘Teus Olhos de Capitu – Outros retalhos e alguns poemas’ será lançado nos próximos meses, e esta semana decidi antecipar um pouquinho dele para dividir com vocês minha pretenciosa aventura pela poesia.
NOSSO LEITO, MEU LEITO
Nosso Leito, meu leito
Espaço que foi nosso, hoje é só meu
Moinho movido à rios de lágrimas
O leito que conosco se enroscou por tanto tempo,
tornou-se ninho molhado e vazio.
Mas o cúmplice de minha saudade,
findou por tornou-se mais quente.
Processo lento, vivemos juntos, de mãos dadas.
Eu e nosso leito.
Agora já não encontro os espinhos de outrora,
já não me parece tão duro nele deitar-me.
Veio a gostosa sensação de se ter um canto só seu.
De tudo sobre você sabe.
Do mais íntimo pôde partilhar.
Hoje ele é meu, não é mais nosso.
Recebe-me todo só pra mim.
Conforto, acolhimento.
Lugar de ordenar pensamentos
De viver sentimentos
Dividi-lo novamente? Por horas quem sabe…
Poucas, porque dele tenho ciúmes.
E o que com ele dividi é só nosso.
Não permite a estada prolongada.
Eu e meu leito, meu leito e eu.
Até o fim.